domingo, 18 de março de 2012

A Primária do Faustino, ou o meu primeiro Amor


Ainda sobre o tema das escolas primárias da praça do peixe, gostava de pedir a colaboração dos frequentadores do Blog da Escola Comercial para me ajudarem a identificar os restantes elementos da fotografia.
Se a minha memória não me atraiçoa foi tirada na época de 1956/57 (4ª classe)
Os alunos identificados são:
Com o numero 1 -Faustino  2- José Manuel Henriques  3- Silva  4- Luis Vidigal  5- Caetano  6- José Fernandes  7- José Manuel Silva  8- Constantino  9- (Russo)  10-Artur (cerâmico e pintor)  11 -Sergio Costa e Silva (médico)  12-Mario Lino  13-Penha  14-Batalha (falecido)
Claro que muitos anos passaram desde que esta foto foi tirada.
No entanto ficaram muitas e agradáveis recordações.
E desses tempos deixem que lhes conte como foi a minha primeira grande Paixão.

A Primeira Namorada

Tenho a certeza que todos nós, mesmo se o passado se encontra já a algumas luas de distância, temos na memória o nosso primeiro amor, ou melhor, aquilo que pensávamos ser qualquer coisa maravilhosa e eterna.  Quando eu era menino, Portugal era governado por uma ditadura, cujo primeiro ministro nessa época, era António de Oliveira Salazar.
Foi portanto a época salazarista.
Por decreto governamental, as escolas primárias eram de sexos separados, quer dizer, havia escolas só para rapazes, e outras só para as meninas.
Quando eu tinha a linda idade de 10 anos, frequentei uma escola a que vulgarmente se chamava a “escola da praça do peixe”.
Este nome devia-se ao facto de existir um grande mercado ao ar livre, cujo comércio era exclusivamente a venda de peixe.
No topo norte desse mercado havia um prédio, onde o rés-de-chão (térreo) era ocupado por uma drogaria, e no andar superior era a escola primária masculina.
No topo sul quase por detrás de um cine-teatro (Pinheiro Chagas) havia a escola feminina.
Geograficamente falando, cerca de 4 ruas para o nordeste, encontrava-se um outro mercado, também ao ar livre, onde se vendiam outro tipo de mercadorias, como por exemplo, hortaliças, batatas, feijão, ovos, flores, enfim tudo que ainda hoje as donas de casa (e não só) necessitam, para prepararem refeições com géneros frescos.
Voltando à minha história, durante a manhã, nós, os alunos tínhamos um intervalo entre as aulas que durava 15 minutos.
É normal que na nossa cabeça, apenas pensávamos em brincar, mas se a lei proibia os dois sexos de frequentar as mesmas salas de aulas, nada nos impedia, durante os intervalos, de nos encontrarmos na rua, e brincarmos juntos.
Foi então que arranjei uma namorada que frequentava a escola no topo sul.
Ela chamava-se Helena, mas para mim, era a “minha Lenita”
Acontece que um dos meus companheiros, também a queria namorar, e a Lenita, resolveu facilmente o problema; ela disse que aquele que lhe oferecesse uma flor, seria o namorado dela.
Como ia-mos nós arranjar flores para oferecer?
Nós éramos adversários, mas não inimigos, portanto combinamos um estratagema...
Iríamos ao mercado das flores e roubaríamos a que tivesse mais descuidada.
E assim fizemos, todos os dias, quando tocava a campainha anunciando o inicio do intervalo, nós saíamos correndo para ir até ao mercado roubar a melhor flor, e voltar para a escola da Lenita, onde ela nos esperava.  Então foi assim: certos dias era eu o namorado, outras vezes era o meu companheiro  (não me recordo bem o nome dele, penso que era Gil) aquele que chegasse primeiro,
seria o namorado naquele dia.
Tudo funcionava bem até que um dia, depois de termos uma flor cada um, corríamos o mais rápido possível, para chegar primeiro.
Claro que havia sempre um empurrão para cá, outro para lá com o objectivo de atrapalhar a corrida do adversário.
Quando corríamos no mercado do peixe, havia muitas caixas de madeira no chão, cheias de peixe, e quando eu estava mesmo ao lado de uma que continha pedaços de raia, que é um peixe coberto por uma camada gelatinosa, o meu companheiro, deu-me um encontrão, enviando-me todo inteiro, para dentro dessa caixa. No momento da queda, ainda consegui agarrar-me á camisola dele e retive-o para ele não chegar primeiro até á Lenita.
Consegui levantar-me e continuei a correr, chegando em primeiro lugar...
Mas ó desilusão das desilusões, quando quis oferecer a minha flor, ela estava toda estragada, além que eu estava num estado lastimoso, com a roupa toda suja do peixe, e cheirava mal.
A Lenita, fez uma cara muito feia, e disse-me, que nunca mais me queria para namorado, que era vergonhoso aparecer naquele estado á frente de uma donzela...
Aceitei a decisão dela, e fui-me embora, sentei-me nas escadas do cine-teatro Pinheiro Chagas
e aí chorei... e chorei... e chorei, aquilo que eu pensava ter sido um grande desgosto de Amor...!!!

Faustino do Rosário

Comentários:

Bem que eu gostaria de dar uma ajuda, mas em 57 andava da 2º classe ainda na escola do Bairro da Ponte. Ainda faria aqui a 3ª e só depois éramos transferidos para a escola da "praça do peixe". Na realidade nunca soube o verdadeiro nome dessa escola, acho até que nunca foi aqui falado nele.
Em relação à canalhada que está na foto, reconheço alguns inevitavelmente, pois tive o privilégio de brincar com eles, apesar de serem mais velhos uns 2 a 3 anos.
Desse reconhecimento saliento o Sérgio Costa e Silva (irmão do Marco Libermann, também médico), do José Manuel Silva (filho do polícia, como era conhecido), o Artur e o Mário Lino. Deixei para último propositadamente o meu amigo Faustino, pois chegámos a morar no Bairro do Viola e por isso fizemos as nossas brincadeiras e jogos de rua que naquele tempo se praticavam. Apesar de me parecer reconhecer mais alguma caras, não sei dizer quem são.
Fico por. Abraço e boas recordações.


Victor Pessa.................18-03-2012

Acho este tema bastante interessante e como tal aqui vai o meu modesto contributo.
A minha escola primária não foi a da Praça do peixe, a do Bairro da Ponte ou qualquer outra das Caldas. A minha escola foi a de Caxias na linha de Cascais. Andei lá desde 1939 a 1943 e ainda me lembro de ver pendurados na parede atrás da professora os retratos de Salazar e Carmona. Contudo, embora a sala fosse pequena porque a escola era ao mesmo tempo residência da professora, as aulas eram mistas. Rapazes e raparigas desde a primeira à quarta classe tudo junto. O que não me lembro é de namoradas. Creio que naquele tempo os “putos” ainda não falavam nessas coisas. Todavia foi aí que surgiu a minha primeira paixão, e, como diz o Faustino, o primeiro amor nunca se esquece. Chamava-se Hermínia.

Fernando Santos....Olhão,19-03-2012


Olá amigos:
Uma pequena correção em relação aos elementos da fotografia
O número 13 é o Diamantino
O número 14 é o Penha
O número 15 é o Batalha
E já agora ao lado do Diamantino (13) é o João Arroja
Abraços

Faustino do Rosário............26-03-2012

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