terça-feira, 8 de junho de 2010

O Jeito para línguas

Retomamos hoje a publicação de algumas "estórias" que estavam em "fila de espera".
O JEITO PARA LÍNGUAS
Eram três jovens alunos da Escola, que todos os dias se deslocavam da vila da sua residência, distante cerca e 18 quilómetros, para assistirem às aulas. O meio de transporte habitualmente utilizado era o ronceiro comboio do Oeste, apanhado bem cedo, depois de um périplo pelas ruas da vila até à Estação. Naquele dia, a volta que precedia a chegada à Estação da CP foi mais longa e passou pelo Largo principal da urbe, onde se depararam com um casal de franceses necessitado de ajuda para prosseguir o seu caminho, vieram depois a saber, rumo à Nazaré. Parado no meio da via, não causando, na época, qualquer estorvo ao diminuto trânsito mas impressionando os olhos dos da terra, um carro vistoso (seria um “boca-de-sapo”!?). Na mão do homem um mapa, onde era apontada a Nazaré e, por gestos, os dois cônjuges a procurarem indagar a forma de sair da terra, perante a ausência de sinalética que fizesse alguma luz. Os interlocutores eram dois ou três adultos, que não conseguiam entender patavina do que pretendiam aqueles seres vestidos de forma meio estranha e que, ainda por cima, falavam uma língua que nenhum deles entendia. A chegada dos três jovens foi a salvação … c’os diabos, três jovens, ainda por cima estudantes nas Caldas (!), saberiam resolver o problema do entendimento e ajudar os franceses. E assim aconteceu. Os três já detinham alguns conhecimentos da língua francesa e, de forma fácil, perceberam que o problema era o caminho de saída rumo à Nazaré. O mais afoito conseguiu fazer-se entender e, de imediato e para espanto dos adultos, entraram no belo automóvel, iniciando a viagem que, para eles, acabaria em Caldas de “La Reine” e, para os franceses, à custa das precisas indicações dos jovens, culminaria, por certo, num belo banho de mar na Nazaré ou na deslumbrante paisagem do Sítio. Na viatura, de luxo, a conversa resumiu-se, por parte dos jovens, a monocórdicos “oui”, “non”, “à droite”, “à gauche”, até à Praça da República, já na nossa cidade. E eis que surgiu a grande dificuldade! Era necessário transmitir aos franceses que chegara a hora de parar “la voiture”, que a hora das aulas aproximava-se e nenhum dos três estava interessado em prosseguir até à Nazaré. Em vão, cada um buscava a frase necessária, o “abre-te Sésamo que parasse o carro”, “ o valor de xis desta difícil equação”. O nervosismo e a falta de conhecimentos entaramelavam a língua e a frase, quando parecia quase, quase a chegar, fugia num ápice. Até que … “nous ficarrons ici”! Os franceses entenderam, pararam “la voiture”, esmeraram-se em “merci, merci, beaucoup” e “les élèves” encaminharam-se a passos rápidos para a Escola, onde fizeram jus à sua capacidade de explanação, para espanto e gáudio dos privilegiados que a ouviram. A “estória” foi de tal maneira glosada e gozada que o pobre coitado, que tinha resolvido o problema, foi, durante, bastante tempo, massacrado com o “ficarrons”. Orlando Sousa Santos
Comentário: Tivessem eles estudado o Mon Ami Pierrot na véspera e tudo teria sido bem mais fácil. Quanto á viatura era de certeza um «boca de sapo». Quantos de nós (os que não tínhamos namorada, note-se) nas praias da zona, não esperàvamos impacientemente pela chegada duma DS21 (de executivo esta) ou duma ID19 (mais pobritana), que além dos pais transportavam as mademoiselles que usavam uns bikinis e umas mini-saias que punham os garotos da zona de cabeça perdida. E depois havia aqueles que não percebendo nada da lingua de Molière, nos perguntavam até à exaustão: como é que se diz «a temperatura está boa hoje». Depois de uma rápida explicação lá conseguiam articular: - mámuáséle la têmpetitiure é bóne ôjuduí! O diálogo normalmente ficava-se por aqui. J.L.Reboleira Alexandre........08-06-10

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