domingo, 13 de junho de 2010

Portugal vs Coreia do Norte

Ano 1966. Dia – não recordo Tempo? - Chuva e temporal, que Deus a dava. Operação - faltar às aulas de tarde. Objectivo - S. Martinho do Porto. Local - Sede do Grupo Desportivo e Recreativo Concha Azul Tomada de Conhecimento - Televisão… naquele tempo… poucas mais havia… ver o jogo. Operacionais - todos, convocados e não convocados. Primeira Acção da Campanha - ida até á estação dos Caminhos de Ferro de Caldas da Rainha, CP. Segunda Acção de Campanha – viagem de automotora até S. Martinho do Porto. Terceira Acção de Campanha – deslocação até á Sede do G.D.R.S.M.P. sem que ninguém nos visse, principalmente e nomeadamente o “inimigo”, digo, os progenitores. Quarta Acção de Campanha – instalarmo-nos comodamente nas cadeiras confortáveis… de madeira e “puxar pelos Magriços”. Quinta Acção de Campanha – regressar à estação dos comboios, esperar pacifica e pacientemente pela automotora oriunda das Caldas. Sexta Acção de Campanha – sair da estação… assobiando para o ar, assim como quem não quer a coisa e… irmos para o quartel, digo, casa. Relato do Golpe de Mão: Chegados à estação de Caldas somos informados que tinha, algures perto de Óbidos, caído uma ribanceira para a linha de comboios pelo que, não havia circulação dos ditos mas estava-se a pensar em formar um até S.Martinho… rebuliço, protestos… então e os outros passageiros que iam para mais longe? A decisão “não atava nem desatava” e… argumenta o chefe, é uma responsabilidade muito grande, não a posso tomar, e, etc., etc. Alguém pergunta: - E em S. Martinho será que podemos apanhar a “carreira” e seguir viagem? Resposta enfática com ar desesperado: - Talvez não, porque sabemos que a ponte de Tornada caiu e a ponte de Salir também caiu. Se bem se lembram – já ouvi isto em qualquer lado – a ponte, na estrada nacional perto de Tornada, era feita de madeira e foi destruída e arrastada pelo temporal – é bom voltar atrás, ao cimo da descrição da Operação, e consultar (Tempo?) – pelo que camionetas e automóveis… que eram raros… também não circulavam entre Caldas e Alfeizerão e, camionetas oriundas de Alcobaça para Alfeizerão / S.Martinho, se as havia! duvido! talvez só quando o Cristo fazia anos, ora como Ele já por cá não andava... Ora bem. Perante tanto acontecimento esquerdino… Diabo… a acção que tão bem tinha sido planeada e escrupulosamente estudada até ao mais ínfimo pormenor, estava altamente comprometida e já víamos – novamente devem consultar o inicio, Local, Objectivo e Tomada de Conhecimento – fugir diante dos nossos olhos. Para piorar a situação a água da chuva invadiu a estrada por alturas da Caldeira, entre Alfeizerão e S. Martinho, na chamada quinta do Gama. Assim a única passagem existente seria a “penantes” pela linha do comboio e respectiva caminhada por sobre a ponte de ferro, sobre o rio, a seguir ao apeadeiro de Salir. Contra factos não há argumentos… a não ser que sejamos políticos, esses têm sempre argumentos para argumentar o argumento mesmo que tal não seja argumento passará a ser argumento do argumento… “livra”! mas perceberam? não perceberam? é que se não perceberam finjam que perceberam, pelo menos para eu julgar que perceberam. Perceberam? E assim colocamo-nos a caminho do Objectivo. Lembro que chovia embora nessa altura, se bem recordo, já se estava no período de aguaceiros esporádicos. Refilando, barafustando e praguejando lá fomos caminhando ao longo da linha até chegarmos ao apeadeiro de Salir. Recordo que - para os que já se esqueceram do motivo porque estão a ler “esta coisa”, era a Tomada de Conhecimento, consultar o inicio – a pretensão valia o que vale e até mais. Patriotismo acima de tudo… Viva Portugal… Galitos, Galitos, hurra. Chegados ao apeadeiro de Salir ouvimos o barulho de um “pouca terra, pouca terra”, vindo do lado das Caldas. Com imprecações, usuais nestas situações, tais como “valha-nos a Santa” ou “bendito Sejais Senhor”, perceberam não foi? Claro que não ia aqui descrever as imprecações, era bom de ver, lá embarcamos no comboio, cansados, moídos, desgraçados, encharcados e chegamos ao Objectivo – consultar novamente o inicio – não sem antes saber que, diante dos protestos, o Chefe da estação de Caldas resolveu, a bem dos seus ouvidos, organizar o comboio, A partir daqui, chegada ao Objectivo, começa a Terceira Acção da Campanha – consultar a discrição da acção, não agora é mesmo para consultar pois houve alterações porque o inimigo, quer dizer, os progenitores, estavam na estação afim de saberem noticias e ficaram a saber que vinha um comboio das Caldas pelo que esperaram a sua chegada - embora com estas alterações na TAdC lá seguimos para a Sede do Grupo. Aí chegados, o jogo já começado e bem (ou será mal?) começado, estávamos a perder por 3 a 0. Maldição, depois de tanto trabalho, tanta canseira, tantos quilómetros “a butes”!!! Mas nós somos assim… heróis até ao fim. Alvoraçamos aquela Sede puxando pela Selecção, praguejamos tanto que lá, ao longe, os “meninos” devem ter ouvido, principalmente o Pantera que desatou a meter golos e… foi um final feliz. Valeu a pena. Escusado será dizer que a Q.A.dC. e a S.A.deC. – se querem saber o que estas iniciais querem dizer consultem, no inicio o Plano de Acção. Hoje os festejos seriam, talvez com umas cervejas, mas naquele tempo… quanto muito uma “Larangina C”. Terá sido? Não me lembro. Um abraço A. Justiça Comentários: Amigo Justiça, vou-te falar do ano de 1966 e da maneira como eu e alguns amigos de escola passamos essa grande festa do futebol nesse ano. Eu e uns tantos amigos mais ou menos da mesma idade regressamos de Angola nesse ano. Eu a 10 de Fevereiro desse mesmo ano e os outros também regressaram antes do mundial e como só um de nós tinha televisão, ele era um dos meus amigos (o João Reis) infelizmente já falecido. Seu pai e a sua mãe convidaram esse mesmo grupo amigo do seu filho por termos regressado em bem a ver os jogos em sua casa, onde não faltou um cafezinho e uns bolinhos à maneira. Ninguém que tivesse vivido aqueles momentos jamais esquecerá, pelo menos o primeiro jogo. Entre aqueles jogadores ia um que dizia muito aos alunos do ERO pois ele estudou no Colégio e era de Alcobaça e o seu nome (Moura), que depois já no Sporting tornou-se conhecido por Lourenço. Eu e todos os alunos da Bordalo que fazíamos parte da equipa da escola, jogamos contra ele, mas não havia duvida ele era o melhor. Dizia-se na altura que foi um dos erros do treinador (Otto Gloria), não o ter posto a jogar no jogo contra a Inglaterra visto os outros jogadores estarem super esgotados e também devido à grande "falcatrua" que os ingleses fizeram em mudar de estádio no jogo contra Portugal para que a selecção tivesse que se deslocar de comboio até ao mesmo. Nota: O João Reis foi aluno da Bordalo, seus pais tinham uma oficina de cerâmica na Rua 31 de Janeiro e chegou a leccionar na escola a arte de trabalhar o barro e tem uma rua com o seu nome nas Caldas. O Lourenço julgo que se formou em Farmácia depois veio para Montreal (Canadá). Penso que o seleccionador na altura era o J. M. Afonso, já que havia um treinador e um seleccionador para a selecção. Pode haver alguns lapsos da minha parte pois já lá vão 44 anos. Aprecio a tua "teimosia" em nos dar os teus pontos de vista e as tuas estórias e talvez nos vejamos este verão em Portugal pois vou andar por esses lados 3 meses e meio Chaves.......21-10-2010 O Chaves já não é a primeira vez que menciona o Lourenço. Sei que os benfiquistas não lhe perdoam ter metido 4 (quatro) na Luz ao pequenote do Melo, mas isso são outras histórias. Foi um bom amigo que tive em Montreal entre os anos 75 e 80 mais ou menos. Perdi completamente o seu contacto, pois voltou a Portugal no inicio da década de oitenta. J.L.Reboleira Alexandre.......22-06-2010

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