Comentários:
Maximino
Quando referes as partes principais inerentes a uma embarcação as mesmas são, popa e proa, estibordo e bombordo. A ré refere o sentido da marcha, é por isso um movimento – avante, para a frente, á ré, para trás.
Embora não se encaixe no teu texto, outra dúvida que tenho reparado em conversas de marinheiros, principalmente amadores, é a confusão que fazem ente milhas e nós. Milhas refere distância e nós refere velocidade, pelo que não se deve dizer que uma embarcação se desloca a tantas milhas por hora mas sim a tantos nós por hora.
Como pediste ajuda para o teu texto aqui fica o meu comentário.
Resta-me dar-te os parabéns por este exercício para memória futura. Nunca me lembraria escrever algo destinado a descrever a Bateira de Óbidos, (embarcação de fundo chato e pequenas dimensões desprovida de quilha) sua construção e “modus-operandi”.
Um abraço

domingo, 11 de julho de 2010
A Bateira da Lagoa de Óbidos
Tenho andado a escrever algumas notas para deixar para os meus netos...
Entre elas algumas coisas escritas sobre a Bateira...
E possível que esteja com um português um pouco arrevezado, pelo facto de umas vezes ser escrito no passado e outras no presente, mas talvez mesmo assim tenha algum interesse para alguns que pouco saibam sobre a Bateira.
Para os que saibam mais do que eu, façam o favor de acrescentar o que quiserem...
Um abraço
Maximino
A bateira é o barco típico da Lagoa de Óbidos, falarei dela algumas vezes no passado, pelo facto de que ainda existindo, já não serem tratadas como nos meus tempos de miúdo, nem serem locomovidas como então, uma vez que o são agora normalmente por motores fora de borda.
É um barco de fundo chato com cerca de 6/7 metros de comprimento, com a popa – ré – cortada e que tem por cima um pequeno estrado fixo, onde se colocava o homem que tocava a bateira à vara, ou pé de cabra – o pé de cabra era uma vara comprida de 5/6 metros que na parte de baixo tinha pregada um bocado de madeira saída para o lado como se fosse um pé e que servia para não deixar que a vara se enterrasse demasiado nos fundos lodosos da Lagoa, o que levantaria dificuldades acrescidas ao individuo que tocava a bateira, uma vez que ao fazer força, a vara se enterraria no lodo e quando a quisesse puxar, travaria a marcha da bateira.
Na parte da frente à popa, uma cobertura abaulada com cerca de 1,50 de comprimento, que tem uma cercadura em madeira à volta e dois pequenos orifícios que vazam para fora e servem para o escoamento da água com que se lava a parte de cima da proa, novamente para dentro da Lagoa.
Debaixo desta cobertura se guardava o garrafão e o farnel, não só de quem trabalhava na Lagoa, mas também daqueles que de quando em vez usavam a bateira para se dirigir à Foz do Arelho, para passar uns agradáveis momentos, numa pausa dos trabalhos árduos do campo.
O esqueleto da bateira, a que se chama cavernas e onde são pregadas as tábuas que servem de fundo e de lado à própria bateira, são normalmente feitos a partir de ramos de pinheiro manso, porque as trancas dessa variedade de pinheiro permitem a adaptação para esse uso.
Normalmente começa-se a sua construção, colocando as cavernas de um lado e de outro e encontrando-se paralelamente, na zona que será posteriormente o fundo da bateira, depois é pregada uma tábua nesse mesmo fundo e outra de cada lado das cavernas e é dada a forma inicial à bateira, afinal não deve diferir muito da maneira usada par construir outros pequenos barcos, noutros locais do País.
Vão seguidamente sendo pregadas todas as tábuas – em madeira de pinho bravo – até se completar a bateira. As frinchas entre as tábuas são depois vedadas com estopa e finalmente é tudo impermeabilizado com breu.
O breu é um subproduto do petróleo e é vendido em forma de pequenas pedras pretas que são colocadas sobre o fogo a derreter, numa panela de ferro de três pés - e a forma de saber se o breu estava no ponto para o uso na bateira era o seguinte: quem preparava o produto, deitava uma cuspidela para dentro da panela e mexia com um pau, se se ouvisse o ruído característico de matéria gorda a frigir, estava no ponto e podia ser aplicado com pincéis no costado e no fundo exteriores da bateira.
Depois a bateira era colocada dentro de água para que a madeira pudesse inchar e ficar impermeabilizada e pronta para flutuar.
Hoje já não se usa o breu e por isso me referi à sua aplicação no passado, pois hoje existem no mercado produtos que fazem a impermeabilização em condições melhores que o breu e também são usadas tintas modernas, mais apropriadas por terem menos toxicidade, para poderem ser usadas na Lagoa.
Também o uso de motores na bateira, levou a pequenas alterações na ré, deixando de ter o pequeno estrado fixo para a colocação do homem que empurrava a bateira à vara, para ter um reforço onde se coloca o motor .
A bateira como não ficava perfeitamente estanque, acabava por meter alguma água, inclusive da chuva e para retirar essa água era usado o bartidoiro, que creio dever ser mais correctamente chamado de vertedouro, uma vez que servia para verter a água de dentro da Lagoa para a bateira para a lavar e depois retirar essa mesma água dos fundos da bateira, entre os espaços das cavernas e devolvê-la à Lagoa.
Presentemente são raras as bateiras que ainda possuem o referido bartidoiro, pois presentemente usam garrafões de plástico de cinco litros que cortam de maneira a poderem ser usados para o fim em causa.
O fundo da bateira tem normalmente uns estrados para facilitar a locomoção das pessoas dentro da mesma, que são amovíveis e o fundo não é completamente coberto para possibilitar a extracção da água que corre de espaço para espaço, porque as cavernas têm dois pequenos cortes de cada lado virados para o fundo da bateira, para que a água possa transitar entre eles.
As bateiras eram também movidas a remos, mais leves os que eram usados pelos varinos sentados num banco transversal, quando andavam na faina da pesca para facilitar a colocação de redes e galrichos.
- Os varinos eram homens oriundos do norte de Portugal, que viviam em pequenas barracas feitas de caniço na beira da Lagoa.
Ganhavam a vida praticando a pesca da enguia, que apanhavam através de galrichos e ainda de tainhas e outras variedades de peixe que apanhavam nas suas redes de emalhar.
Depois vendiam ou trocavam por produtos da terra o peixe apanhado, nas outras aldeias limítrofes da Lagoa .
Para usar a bateira como meio de transporte, eram usados também dois remos mais pesados e colocados dois bancos na bateira, onde se sentavam os remadores.
Para ancorar a bateira, era usada uma pedra envolvida por dois troncos laterais e um na base, com as extremidades salientes, aos quais era atada uma pedra que servia de ancora – a que se dava o nome de poita .
Quando era necessário manter a bateira parada, lançava-se à água a poita e a bateira ficava mais ou menos imobilizada pela acção não só do peso da pedra, mas também da tracção provocada nos fundos da lagoa pelos troncos salientes, presentemente, são usadas ancoras feitas de ferro.
Hoje já existem muito poucas pessoas que sejam capazes de construir capazmente as bateiras, que pouco a pouco vão sendo substituídas por pequenas lanchas de fibra de vidro.
Ainda nos finais dos anos cinquenta do passado século vinte, as bateiras eram usadas para a apanha do limo (moliço) na Lagoa.
Esta prática perdeu-se de vez nos inícios dos anos sessenta, não só pelo facto de o limo começar a rarear na Lagoa pela acção do assoreamento e crescente poluição, mas também pela ausência dos homens que normalmente trabalhavam na agricultura e na Lagoa, uns porque emigraram à procura de melhores proventos e outros, os mais novos, por terem sido enviados para a guerra que ao tempo tinha começado nas distantes terras de África, que eram colónias portuguesas
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