Além do "comboio dos banhos" havia outros meios de transporte muito
utilizados que eram a "camineta dos Capristanos" e os burros.
Antes de chegar à estação de São Martinho do Porto, o comboio parava também no
apeadeiro de Salir do Porto. Esse apeadeiro não tinha condições nenhumas para
as pessoas que saíam das carruagens pois o último degrau ficava muito alto em
relação ao chão. Felizmente que as pessoas ajudavam-se umas às outras para
evitar acidentes. Depois de sairem do comboio, as pessoas afastavam-se um pouco
para que o comboio pudesse repartir, e então era ver todo aquele gentio a atravessar
a linha, com os seus cestos de farneis sem esquecer os respectivos
"palhinhas" que era um garrafão de 5 litros, normalmente cheio de
vinho tinto. A maioria das pessoas que ficavam para a praia de Salir do Porto,
tinham como objectivo principal irem até à "Pocinha" que era uma
nascente de água doce que ficava junto às ruinas de uma antiga alfandega. Essa
água tinha fama de ter propriedades medicinais, e quando a maré estava baixa
formava uma poça de água, no meio das pedras, onde especialmente os homens com
as ceroulas arregaçadas molhavam o corpo nesse pequeno espaço. Os
"palhinnhas" depois de consumida a pinga, eram novamente cheios com
essa água, para levarem para as respectivas moradias. Não sei se a bebiam, ou
se era apenas para lavarem partes do corpo que estivesem doentes.
Quanto aos burros, o "parque de estacionamento" era nas pequenas
dunas entre São Martinho do Porto e Salir.
Certa vez, o sr Jaime alfaiate (personagem já aqui recordado no tema os Prédios
do Viola) que tinha a mania da pesca, sugeriu que fossemos acampar num local
muito sossegado que ficava nas trazeiras das dunas de Salir, mas junto ao mar,
ou seja em frente à praia de Santo António, que infelizmente hoje não existe
porque depois de de passar o tunel, é só pedras.
Nós eramos 3 grupos incluindo o sr Jaime. Descemos no apeadeiro de Salir, e lá
fomos nós com a "tralha" toda às costas, subimos a grande duna de
Salir com certa dificuldade, e depois de descermos na outra encosta, chegámos
ao nosso destino. De facto o local era muito bonito, até tinha umas pequenas
árvores que faziam sombra. O problema é que de noite, se não fossem tomadas
certas medidas, eramos comidos pelos inúmeros bandos de mosquitos que
impestavam aquela zona. Mas o sr Jaime, tinha a solução para este caso.
Fomos ao "parque de estacionamento dos burros" e enchemos um saco com
as "cagalhotas" desses animais. Quando a noite se aproximava, fizemos
uma fogueira na frente de cada tenda e depois de bem ateadas, colocámos uma boa
quantidade de "cagalhotas" que originava uma densa fumarada,
afastando assim os mosquitos.
O cheiro não era muito agradável, mas posso garantir que nenhum mosquito entrou
dentro das tendas.
Em resumo, posso afirmar que nessa época, as condições não eram talvez as
melhores, mas ninguém tenha dúvidas... éramos muito felizes.
Um grande abraço com votos de boas férias.
Faustino Rosário
Comentário:
Na primeira parte de "As férias do Faustino do Rosário", o amigo Mário Capinha teceu um comentário com o qual estou totalmente de acordo. Finalizava, dizendo que não devemos ter vergonha do passado. Esperei pela 2ª parte e quero dar os parabéns ao Faustino pelas histórias que aqui nos trouxe. São memórias dum passado não muito longínquo que grande parte de nós viveu. “Os abastados e os tesos em S. Martinho, as criadas, a rua dos cafézes, as máquinas a vapor, o comboio dos banhos, a camineta dos Capristanos, o estacionamento dos burros, os palhinhas de 5 litros, e até a utilidade das cagalhotas”! Por tudo isto eu passei e não me envergonho de dizer que em 1948 vivia numa casa da rua da ilha situada num pátio que às segundas-feiras servia de “garagem” para burros, e que estes como é natural por lá deixavam muitas das tais “cagalhotas”.
A maioria de nós não nasceu em berço de ouro, mas éramos tão felizes… Não é verdade Faustino?
Um abraço, e venham daí mais histórias.
Fernando Santos……………..Olhão........13-08-2012
Fartei-me de rir com esta artigo do Faustino!!! Sào artigos como este que nos fazem bem à alma!! benditos os SIMPLES, pois deles será o reino dos céus!!!
Ana Reis.............14-08-2012
Reparem como o Faustino nos seus comentários, tão bem retrata o espírito de camaradagem na época.
Apesar de todos os condicionalismos, as pessoas viviam felizes. Nada melhor para darmos valor ao pouco que temos, do que pensar no muito que não tivemos.
Um abraço de boas férias:
Mário Reis Capinha, 15.08.2012
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