quinta-feira, 21 de maio de 2009

Quem tramou… o Maximino

Vou contar uma história que se passou comigo e com o saudoso Dr. Bento Monteiro...com quem mantive amizade até à sua morte...

Eu tinha sido aluno do Dr. Bento Monteiro e debaixo da sua orientação, participei nalguns teatros e fiz parte de um grupo de jograis...
Mas a determinado momento, passei a ser aluno de história da também saudosa Dra. Deolinda...
Um dia o Dr. Bento Monteiro convidou-me para uma outra peça de teatro e eu disse-lhe que não, eu até gostava, mas o facto de morar em Óbidos era um pequeno obstáculo por causa dos transportes...
Ele não aceitou de boa vontade e disse qualquer coisa como: ainda te vais arrepender...
Eu como já não tinha aulas com ele, respondi que isso não me preocupava...
Chegou a época dos exames e do júri do exame de História fazia parte a Drº Deolinda, uma outra professora e o Dr. Bento Monteiro...
Devido ao meu nome, creio ter sido o ultimo a ser chamado para a prova oral...
Quando é chamado o meu nome, o Dr. Bento Monteiro diz para a presidente do Júri: colega, gostava de interrogar este aluno...
Eu, ao mesmo tempo que me levantava, disse entre dentes: já estou tramado.
Ao que o Dr. Bento Monteiro perguntou: o que estás a dizer?
Nada Sr. Doutor, estou a dizer que já estou preparado...
Pareceu-me que não foi isso o que disseste...e ficou por ali a troca de impressões...
Começou o interrogatória...pela Grécia e eu fui-me espalhando, mas sem me calar...
Passou à história de Roma Antiga e fui-me desenrascando...
O tempo foi passando e ele entrou a perguntar-me coisas da história contemporânea...
O pacto de Varsóvia...a NATO e coisas assim...
E eu que lia os jornais todos os dias...lá fui desfiando o que sabia...
O tempo foi passando e ultrapassado...e às tantas a Dra. Deolinda chamou-lhe a atenção para o facto de já ter acabado o tempo de prova e o Dr Bento Monteiro após mais uma pergunta...terminou por ali o exame...
Cá fora, esperava-se a colocação das pautas com as notas...
Às tantas elas foram afixadas e enquanto eu conferia o meu catorze...o Dr. Bento Monteiro passou por detrás, deu-me uma palmadinha no ombro e disse: afinal...não ficaste tramado...!!!

E eu que estava convencido que ele não tinha percebido bem...o meu desabafo inicial...

Pronto, a história não tem grande interesse, mas a culpa foi do Zé Ventura, que estava para aqui a desafiar-nos...

Um abraço
Maximino

Comentário:

Acabadinho de chegar de mais umas voltas pelas margens orientais do Atlântico Norte, muito mais para Sul do que no nosso habitat diário, impunha-se de imediato uma espreitadela (será mesmo vício?)ao nosso blog. Infelizmente neste momento atravessar o grande lago está para mim fora de questão, pois motivos familiares me impedem de o fazer. Depois os primeiros meses no ano, e este mais ainda, a crise ajudando, são um periodo em que normalmente o tempo é pouco para trabalhar, relegando «as coisas» do espirito para segundo plano.

Foram 6 dias fora do escritório, infelizmente de telemóvel sempre ON, aquilo a que nós por aqui apelidamos de «little brake», mas o suficiente para recarregar baterias.

Voltando ao tema «escola» e á força que o Artur G faz para que todos quantos por aqui aparecem nos contem um episódio qualquer, só posso ser mais uma voz a juntar à dele.

Como trinta e tais anos fora do nosso cantinho são muitos anos e honestamente, a nossa memória já apagou grande parte da vivência daqueles anos. A fluidez da escrita também já não é o que era. Para o Artur, direi que me é bem mais fácil digerir as ideias (e que ideias !!)na lingua de Victor Hugo, daquele fulano libanez (ainda não percebi se Árabe ou Cristão),que vivendo em Paris analisa de forma desassombrada o Mundo tal qual hoje se encontra.

No entanto tudo farei para que o esforço impagável do ZV seja minimamente recompensado. E como ele ainda não nos cobrou $$$ pelas horas que perde por aqui, a nossa forma de lhe agradecer será com a nossa participação no blog. Com histórias, muitas histórias. É que nenhuma delas é insignificante, amigo Maximino, e todas valem a pena serem contadas.

E será que os nossos professores eram todos «bonzinhos» como por vezes parece ou será que havia assim uns menos bons? Eu sei que os havia. Por que não lembrá-los também ? De preferência sem ferir susceptibilidades.

J.L.Reboleira Alexandre.......22-05-2009


O dr. BM continua a ser uma figura incontornável, senhor de um carisma que o tempo não ousa apagar. O episódio trouxe-me à memória todo aquele cerimonial dos exames orais que os actuais alunos do secundário nem sonham ter existido. O interesse do relato reside sobretudo na caracterização dos antagonistas em cena. A referência à super presidente do júri que, noutras ocasiões, costumava ter uma postura menos apaziguadora, permite-nos concluir que todos nós temos uma parte de «bonzinhos» e algumas outras de sinal contrário. Os professores (pobres mortais) não fogem a este desígnio da condição humana. Parabéns ao Maximino (que só conheço deste fórum) pela partilha da historieta. E que venham outras mais…

Artur R. Gonçalves......22-05-2009

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