quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Hoje escrevo eu: Fernando Santos

Tenho acompanhado o blog da Escola e constato que o meu amigo Zé Ventura tem toda a razão! O blog não pode nem deve continuar só com a publicação de fotografias. Há que fazer mais alguma coisa! E parece-me que alguns comentadores estão dispostos a colaborar. Eu, que não fui aluno da Escola mas sinto uma grande ligação às Caldas, estou disposto a dar algo mais do que fotografias, até porque não as tenho. Como tal, retirei do meu caderno de memórias o texto anexo. Não contém nomes, porque se foram perdendo com o passar dos anos, mas a estória é verídica. Tal como muitos do meu tempo, e embora contra a vontade do meu pai, também fui da Mocidade Portuguesa. Se entender que o texto tem cabimento no espírito do blog, pode publicar. Um abraço do Fernando Santos.
1945 ACAMPAMENTO DA MOCIDADE PORTUGUESA NO CASTELO DE ÓBIDOS

Em 1945 andava eu na Escola Industrial do Marquês de Pombal ( a velha Marquês) em Alcântara, quando pelas férias da Páscoa, a Mocidade Portuguesa organizou um acampamento no Castelo de Óbidos, onde participaram filiados de várias escolas de Lisboa. A concentração deu-se na Estação do Rossio, e à hora marcada lá estavam os "piolhos verdes" devidamente equipados. Calção de caqui, camisa verde, bivaque na cabeça e mochila às costas. A partida estava marcada para o comboio das quatro da tarde, porém, como não havia lugar para tanta gente, tivemos de esperar por outro que só partiria por volta das seis. Ora com duas horas de atraso, certamente o programa já não iria correr conforme o previsto, e alguma coisa iria falhar. Assim, chegámos à estação de Óbidos cerca da nove da noite. A vila, que eu ainda não conhecia, ficava longe, no alto dum monte sobranceiro à Estação. Para lá chegar, tivemos de subir uma enorme ladeira que nos deixou estafados. O material de apoio já estava todo instalado pela organização num terreno do lado norte do Castelo, mas dentro das muralhas, onde nós desajeitadamente e muito à pressa montámos as nossas tendas. Só faltava jantar e dormir. Todavia, não me recordo a razão, sei que não houve comida para ninguém. Todos estávamos esfomeados, e o que nos valeu, foram as sandes que alguns de nós tinham levado. Durante a noite levantou-se um enorme temporal de chuva e vento que aos poucos foi derrubando todas as tendas. Com a pouca luz que tínhamos ainda tentávamos por várias vezes prender as estacas, mas com o terreno encharcado estas não se agarravam ao chão. A partir daí já ninguém conseguiu dormir, e pela manhã com o pessoal todo molhado, o cozinheiro, também debaixo de chuva ainda nos conseguiu arranjar um ligeiro pequeno almoço. Como o temporal não abrandava tivemos que deixar o acampamento e fomos encaminhados para uma velha igreja em ruínas que ainda tinha cobertura. ( Soube mais tarde que era a igreja de São Tiago hoje já restaurada). Depois trouxeram-nos para almoço uma ligeira refeição, e como esta igreja não tinha condições de segurança, ao fim do dia mandaram-nos para a igreja de Santa Maria onde instalámos as nossas camas feitas com palha de fardo, e ao jantar houve comida com fartura para todos. Devido ao mau tempo as actividades que estavam programadas não se efectuaram, mas ainda houve um dia que fizemos uma marcha a pé às Caldas da Rainha com a promessa dum passeio de camioneta à Foz do Arelho. Porém, tal não aconteceu devido à falta de organização dos nossos dirigentes que não conseguiram alugar a horas o meio de transporte prometido. Voltámos de novo a pé para Óbidos, e nos restantes dias conforme o tempo permitia vagueámos pelas ruas da Vila procurando aventuras. Demos a volta completa pelo cimo da muralha, e do lado de fora, na encosta que dá para a estação, descobrimos uma capela em ruínas sem telhado onde se encontravam diversas sepulturas abertas, e restos de ossos humanos dispersos por todo o lado. Escusado será dizer que perante a macabra descoberta, alguns de nós inconscientemente, pegámos em tíbias e caveiras, escondemo-nos por detrás dos montes de entulho e fomos pregando umas valentes partidas àqueles que chegavam mais atrasados. Ao quarto dia terminou o acampamento e regressámos a Lisboa. Quando saí na Estação do Rossio estava de novo a chover, mas não tive outro remédio senão ir a pé, debaixo de água até à estação do Cais do Sodré apanhar o comboio que me levaria a Caxias, localidade onde nessa época eu morava. A minha figura devia ser um tanto ou quanto ridícula, pois no caminho ouvi comentários que não me agradaram. Como já referi, ia vestido com a farda da Mocidade, mochila ás costas, e pendurada nesta, uma picareta de razoável tamanho que fazia parte do equipamento. Em dada altura reparei que atrás de mim vinham umas pessoas a comentar: Coitado do miúdo! Com um tempo destes e a fazer campismo! Tinham razão! Eles bem agasalhados, chapéu de chuva na mão, e eu naquela figura todo encharcado! Senti-me envergonhado, humilhado e ridicularizado. Olhão, 22 de Dezembro de 2009 Fernando Santos. Comentários: Já me expressei mais de uma vez a minha opinião sobre a MP, pelo que me dispenso de voltar a fazê-lo. Seria uma repetição desnecessária. Gostava, todavia, de saudar o Fernando Santos (que vou começando a conhecer por este meio cibernético que a modernidade pôs à disposição de todos) pela iniciativa de revitalizar o Blog da Escola que até nem foi a sua. O ano novo, de facto, começou bem. Assim se lhe sigam outros exemplos semelhantes. Artur R.Gonçalves.......08-01-2010

Amigo Fernando Santos (Que eu julgo não conhecer) Realmente o Amigo tem toda a razão. O Colega Zé Ventura, merece muito mais apoio no seu trabalho e dedicação por todos nós.

1947 ACAMPAMENTO DA MOCIDADE PORTUGUESA NO CASTELO DE ÓBIDOS Precisamente dois anos mais tarde, participei também num fim de semana, num acampamento da Mocidade Portuguesa. E, caros amigos, naquele tempo, com a nossa inocência e ignorância, usar a farda e participar nas actividades da Mocidade Portuguesa era excepcional. Não tenho vergonha de dizer que, quando pela primeira vez vesti a farda da M.P., me senti um General de 5 estrelas, em ponto pequeno bem entendido. Quanto ao acampamento no Castelo de Óbidos com que comecei o meu texto, foi evidentemente uma paródia. Dormir naquela noite julgo que ninguém conseguiu. E no que respeita à alimentação, como o cozinheiro ficou de férias, aquelas "sandocas" bem duras, até souberam a pão de ló de Alfeizerão fresquinho. O transporte....´Caldas-Óbidos-Caldas, está-se mesmo a ver... foi evidentemente à "la pata". Bons tempos que recordo com saudade. Mário Reis Capinha .....08-01-2010

Eu tenho reparado que este tema da M.P. se torna de algum modo sensível para certos comentadores deste blog ou será impressão minha? Os amigos Fernando Santos e Mário R. Capinha têm estórias relacionadas com os acampamentos da M.P. É curioso que sendo eu nascido em 1950 obviamente mais novo que eles, também me lembro de um acampamento da M.P. em Óbidos e tal com o grupo do amigo Fernando nós também tivemos chuva e mau tempo. Talvez que este meu comentário sirva para alguns dos colegas daquele tempo se entusiasmarem e se lembrem melhore do que eu para dar o seu contributo, também a comentar esta aventura que foi no ano de ano 1961 (ou seria 62). Lembro-me que nos juntámos na escola velha e partimos para Óbidos , à pata, sob do comando do Mestre Mateus. Quando lá chegamos começámos a armar as tendas e ainda não tínhamos acabado de o fazer começou a chover com alguma intensidade, entretanto também se fez noite e a malta ficou toda molhada, tenho uma vaga ideia que a chuva era tanta que voltámos para casa na mesma noite, mas penso que foi de comboio, não me tenho a certeza, por isso faço o desafio para alguém do meu tempo que me avive a memória e ao mesmo tempo fazer a correcção necessária do ano e do regresso a casa de certeza que o Batista, jaime Neves, o Luis "Pingas", Edgar ou outro que se lembra desta passagem que foi antes do acampamento de Aljubarrota, do qual já vi fotos neste blog. Antonio Abilio.......09-01-2010 Também eu me lembro do acampamento de 1947. Andava na 3ªclasse. O meu grupo não foi acampar, foi só no próprio dia de manhã. A pé claro.O único detalhe que me lembro foi a fome que passei. Só a meio da tarde a minha irmã, que tinha começado naquele ano a dar aulas (felizmente para mim à 4ªclasse na Praça do peixe) me arranjou um pão com manteiga e uma laranja. Foi a única vez que fui a um acampamento. Anónimo........10-01-2010

Pelo que me é dado observar nos comentários já enviados, a fome, a chuva e o andar a "la pata" foram comuns nos acampamentos da MP em Óbidos! Olá Mário Reis Capinha! O meu amigo esteve lá em 1947, deve ter poucos anos menos que eu, e talvez até nos tivéssemos conhecido, por isso veja se anima o blog com mais umas estórias do seu tempo de Escola. Olhe que eu tenho por cá mais algumas, mas há que dar a vez a outros! Um abraço para todos P.S. Olá comentarista anónimo! Pode saber-se a razão porque não se identifica? É sempre agradável saber quem são as pessoas que falam connosco mesmo para uma crítica,(que não foi ocaso).Apareça e conte alguma estória que será sempre bem recebido! Fernando Santos .....Olhão, 11-01-2010 O meu registo ficou anónimo porque me esqueci de assinar. O meu nome é João Martins. Não andei na Escola. Andei no Ramalho Ortigao. Mas não deixo de acompanhar os dois blogues com alguma regularidade.Sou um "caldense degenerado" visto que raramente vou à minha terra. cumprimentos a todos. João Martins.......11-01-2009 Boa noite, Sr.Fernando,como vê cá estou eu a dar a minha opinião. Gostei de ler o seu comentário e não me lembro de ter feito qualquer acampamento da M.P., mas lembro-me e muito bem do dia 13/05/1965, em Fátima, quando o Papa Paulo VI doou e abençoou a "Rosa de Ouro" à Basílica de Fátima. Dia terrívelmente quente, abrasador mesmo, e nós todas fardadas, com aquelas saias de fazenda quentíssimas, mas impecavelmente em sentido. De vez em quando lá caía uma pessoa ao nosso lado, não aguentando mais o calor e a sede, só víamos rapazes da Cruz Vermelha a socorrer e dando cantis de água a beber. Como vêem não era só de vento, chuva e frio que nos lembramos mas também se passava e muito com o calor! Lembrei-me desta, agora! Durmam bem e com anjinhos. Lurdes Peça.........19-01-2010

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