terça-feira, 24 de maio de 2011

Do Borlão ás Avenidas

Uma vez que o Zé deu por encerrado o capítulo sobre os Prédios do Viola, que tantas saudades provocaram em quem lá viveu (e não só), resolvi deslocar-me para uma zona contígua e que esteve igualmente ligada à minha infância e à minha adolescência.
Refiro-me ao BORLÃO!
A casa da minha avó materna situava-se na Av. da Independência Nacional, Nº 20 e tinha, nas traseiras, um enorme quintal, cujo pequeno portão se abria precisamente para o Borlão e, por aí, se encurtava caminho.
Existia nesse quintal um poço com água bem refrescante e, à sua volta, bem frondosa, erguia-se uma gigantesca nespereira, com deliciosas nêsperas que eu devorava sofregamente e cujo sabor nunca mais voltei a sentir, eram inigualáveis!
A antiga Av. da Independência Nacional, com a Estação dos Caminhos de Ferro ao fundo, era muito aprazível! Não tem nada a ver com a que resta actualmente.
Quem não se recorda das suas lindas amoreiras, cujas folhas nós apanhávamos para alimentar os simpáticos bichinhos da seda?
Quem nunca se sentou, ao final da tarde, naqueles velhos bancos de madeira (creio que vermelhos), trocando dois dedos de conversa com vizinhos ou amigos?
Onde hoje se localiza o prédio que possui o Supermercado Escolha, tinha  eu aulas de piano com a saudosa Professora Maria Amélia Ferreira, cujos ensinamentos se diluíram no tempo...
Já nada disto existe, claro!
Foi precisamente esta casa e este quintal, que acompanharam o meu crescimento, que foram demolidos para "rasgar" a actual Av. 1º de Maio.
Realizavam-se  no velho Borlão as animadas Feiras anuais do 15 de Agosto e aqui se situava também um "barracão" pertencente à F.N.P.T. (Federação Nacional dos Produtores de Trigo).
Mais tarde, surgem a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, o Tribunal e, mais recentemente, o edifício da Câmara Municipal.
Toda a minha vida, (com excepção de uma fugaz experiência "militar" em terras moçambicanas), se desenrolou neste triângulo - Prédios do Viola, Rua Engenheiro Duarte Pacheco e Av. 1º de Maio.
Mesmo aqueles que não viveram nesta cidade, aqui estudaram e, como os tempos eram outros e as posses diferentes, desembarcavam na Estação Ferroviária ou Rodoviária, percorrendo esta área quase diariamente a caminho da nossa Escola.
É a todos vós que  lanço este desafio - falem do Borlão que conheceram e que acabou por se transformar num ponto central  das nossas Caldas de hoje em dia, a que atribuíram a designação histórica de Praça 25 de Abril!
Cá espero os vossos relatos!
Fátima Valente

Comentários:

Recordo-me ainda muito bem, apesar de já ter passado muito mais de meio século, "deste" Borlão...
Quando saía da Estação, vindo de Óbidos (nos tempos, em que apesar de tudo..."ainda havia" comboios...), passava precisamente por essa zona a caminho da "velha" Escola...
Ao contrário do pedido da canção...o tempo não volta para trás...

Mas as lembranças, essas sim...voltam, e ajudam-nos... "a voltar" ...a ser meninos e meninas...

"Tanto que se ganhou" depois desse tempo, mas também "tanto que se perdeu"...
Valham-nos ao menos, as memórias...!!

Abraço
Maximino ..............25-05-2011

A velha Avenida!
Outro local onde vivi no N°7, hoje o primeiro prédio a seguir ao Grémio da Lavoura para o lado da estação o qual ainda lá está, quase de fronte da casa da Avó da Fátima. Brinquei muito com outros rapazes perto do local mencionado, comia-mos as amoras e apanhávamos as folhas para os bichinhos da seda, usávamos os bancos como balizas para os nossos campeonatos de bola, alguns que me vem á memória, são o Espanhol, o Coutinho, o Rolim, o Terrinha, o filho do Antonio Pedro, havia dois rapazes qual o nome já me falha que eram gémeos, enfim tempos de meninice. Recordo-me muito bem do enorme quintal da Avó da Fátima pois se provei as nêsperas foram poucas certamente ou se o Espanhol me as tivesse dado, porque o muro era alto!
Do mesmo lado da casa da tua avó para o lado dos bombeiros morava um Professor da nossa Escola o qual não me recordo o nome, mas vou tentar seria o (Rainho ou o eng. Piriquito) talvez algum dos colegas se recorde e nos diga quem ou qual era o professor que ali habitava.

Fátima, na Avenida também se efectuava todas as Segundas Feira a feira das hortaliças e alfaias agrícolas, onde também aparecia no topo lado do grémio um sujeito a vender Canetas e lapiseiras quando isto era uma novidade daquele tempo
(O Barateiro das canetas) mais tarde abriu uma loja em frente da loja nova do Thomaz dos Santos perto da Robialac.

Tudo isto são boas memórias do nosso tempo de miúdos, obrigado Fátima por nos avivares e a ajudares a manter as nossas mentes jovem.

Um abraço.

Antonio Abilio .................29-05-2011

Quem morava aí era o prof. Rainho . O eng. Piriquito morava na Nazaré

Ermelinda Lopes ...................30-05-2011

Ora ai está: Obrigado Ermelinda pela ajuda, todos é que sabem tudo.
Eu pensava que era um deles, mas os anos já são muitos e ás vezes as certezas são poucas.

Um abraço.

Antonio Abilio ..............30-05-2011

A Ermelinda está certíssima.
Trata-se, na realidade, do Mestre Rainho, marido da minha excelente e exigente professora primária - Maria Joaquina Rainho, avós da Carla, que, aqui há uns meses, interveio no nosso blogue, falando do avô, lembram-se?
Aliás, para ser mais precisa, quem ali residia não era o Mestre, mas os seus familiares, pais e irmã.
E lembram-se de quem vivia na casa mesmo ao lado? Era um sapateiro que tinha um macaco que passava a vida acorrentado, passeando-se por cima de um muro e que fazia as nossas delícias!

Fátima Valente...............30-05-2011

Sim lembro -me do sr.Chico Sapateiro e do seu macaco pequeno que era mesmo na esquina em frente ao portão lateral dos Bombeiros e do portão do Armazem de ferro velho que pertencia ao Pai do Alexandre Puga, outro ex residente do Bairro Viola.
O macaco andava no muro e também tinha um pau por onde ele subia e depois saltava então para o muro.
Pelo que se vê essas memórias estão em bom estado.
Força Fátima continua

Abraço a todos.

Antonio Abilio ......................31-05-2011

Sou leitora deste blogue que muito aprecio e falando no mestre Rainho e da dona Maria Joaquina, que era assim que a senhora gostava de ser tratada com todo o respeito, toda a vida me lembro que eles viveram na Rua da Esperança perto da avenida e também me lembro do Sr Chico o nosso sapateiro, bons tempos.

Nanda……………31-05-2011

Nanda, suponho que não a conheço pessoalmente, mas, a propósito do casal Rainho, devo elucidá-la do seguinte: efectivamente, eles viveram muitos anos na Rua da Esperança, foi ali que terminaram os seus dias; mas eu, que fiz toda a instrução primária com a D. Maria Joaquina, comecei a minha 1ª classe numa outra casa localizada numa rua paralela a essa - a antiga Rua da Electricidade, actualmente Rua Dr. José Saudade e Silva.
Tratava-se de ensino particular; ela era extremamente exigente, severa, mas quem passava por aquelas carteiras ficava seguramente muito bem preparado.

Foi sempre muito minha amiga! Quando me encontrava, já eu bem adulta, recordava sempre uma frase minha de garota bem gordinha a que ela achava muita graça: "A açorda faz a velha gorda"!


Ele era o oposto dela - calmo, paciente...
Como colegas, (poucos ingressaram na Bordalo Pinheiro), tive a Ana Nascimento, O António Bretts Jardim Pereira, que já partiu, o Zé Luis Brilhante, o meu primo, o Manuel Gerardo, a Clara Viegas, a Salete Lourenço, a Benilde Saramago, enfim, sei lá quem mais...
Tenho muito orgulho em ter sido aluna da D. Maria Joaquina Rainho! Aprendi imenso com os seus ensinamentos!

Fátima Valente...................31-05-2011
Conhecia muito bem toda aquela área da Avenida não só por causa das amoras...
A Fátima fala do Chico sapateiro e do macaco "cara de cão" que corria pelo muro cor avinhada que ficava mesmo na esquina. Se a memória não me atraiçoar eu estou quase certo que ele era tio da Isabel Alves que também entra no blogue.
Ao lado era o quartel dos bombeiros e também havia a Igreja protestante em que os pastores eram ingleses e que moravam nos Prédios do Viola.
O Pr. Manuel José António (português) era pai do Mestre Raínho, que também morava na Avenida. O Chico Anselmo (Natário) era neto ou afilhado de duas senhoras (irmãs) que julgo eram gémeas e também moravam na Avenida.
A família Natario havia o Valente que concorreu a ser Presidente da Câmara e talvez pertença à família da Fátima.
Sem mais saudações

J. Chaves.................01-06-2011


Olá Abílio!
Já que falaste nos campeonatos de bola, realizados nos passeios da avenida, em que os bancos serviam de balizas, não sei se te recordas do “árbitro” que de vez em quando aparecia, acabava com o jogo e ficava com a bola.

Tratava-se do temível polícia Artur que não me recordo se estava ou não reformado, mas andava a cobrar quotas salvo erro da Misericórdia.
Já agora continuando no mesmo assunto e quando nos deslocávamos para efectuar alguns jogos, quer ao Bairro do Viola ao “estádio” que ficava ao fundo do bloco de prédios, hoje rua José Filipe Neto Rebelo, local de treinos de um “caldense” que praticava salto com vara, podem imaginar as condições que ele tinha, de seu nome Manuel Santos, que chegou a ser recordista nacional, quer ao Bairro da Ponte no “estádio” da escola primária e ao Largo João de Deus no “estádio” do pinheiro da rainha, na altura uma deslocação, que hoje em dia só se compara para os Países do Leste.
Quanto aos irmãos gémeos não estou a ver quem sejam mas não estarás confundido com o Olímpio e o João José Leitão que moravam na rua da Estação, que faziam parte do grupo além do Pata que os pais tinham uma mercearia na rua da Flores.
Quanto à nespereira que a minha prima tanto elogia, concordo plenamente com ela, pois nunca mais comi nêsperas como aquelas. Não sei se te recordas que na altura ficou estipulado que não se podiam apanhar as nêsperas que estavam “mais à mão” pois eram lá para casa, mas sim as que se encontravam lá no alto o que acontecia que em cada ramo de árvore, sem precisar de sair do mesmo lugar, estava um guloso consumidor, mas chegava para todos tal era a dimensão da árvore.
Um abraço

João Hespanhol……………………. 2011/06/02

Colega J. Chaves:
Apesar de não o conhecer, constato que tem uma vaga noção dos membros da minha família, ainda que haja por aí algumas confusões, o que é perfeitamente natural!
O "Chico Anselmo" a que se refere, deduzo que se trata de um tio meu, já falecido há mais de 30 anos e irmão mais novo das duas senhoras (não gémeas, separa-as uma diferença de 5 anos), que são concretamente a minha mãe e uma tia, esta última mãe do João Espanhol.
Não tinha o apelido "Anselmo", este pertencia a seu pai, meu avô materno, mas sim "Natário de Sousa".
Quanto ao "Valente" de que fala, é realmente o meu único irmão, mais conhecido por Zé Valente.
Parabéns pela sua memória!
Cumprimentos


Fátima Valente..............02-06-2011

Ora Bem, mais um Amigo que aparece a participar no Blog da nossa Escola.
João Hespanhol sejas bem-vindo a estas paragens pois vejo-te no FB mas ainda não tive coragem para contender contigo, pois não tinha a certeza se ainda te lembravas de mim, por isso obrigado.
Quanto ao teu comentário que tanto gostei de ler, veio complementar o que eu tinha na ideia e adicionaste mais outros nomes que eu me lembro bem mas não citei, pois não quero tomar todo o espaço com os meus comentários para que o pessoal não diga que eu tenho monopólio do Blog, pois isto é para todos relatarem as suas histórias e recordações.

João os irmãos que eu me refiro até me parece que eram família do Pata ou moravam perto dele, na rua das flores, eles eram pequenitos "baixinhos"
Pode ser que alguém se recorde e nos venha dizer algo mais.
Que a maioria da rapaziada não vivia mesmo na Avenida mas nas ruas adjacentes, porque na realidade na Avenida eras tu ,eu o Rolim, o João Manuel filho do Bombeiro, que moravam por de cima da senhora que era Parteira quase em frente da tua casa, poucos mais seriam a não ser que te lembres de algum que eu me esteja a esquecer.
O estádio que te referes onde o campeão de salto á vara Manuel dos Santos era uma propriedade que pertencia ao Sr. Zé Padre, ele deixava uma parcela por amanhar e a malta usava e abusava lá afazer os campeonatos da bola. Pois o teu relato foi correctíssimo continua a participar pois quantos mais melhor.
Um forte e saudoso abraço.

Antonio Abilio…………..02-06-2011


Olá a todos
A memória do Chaves não o atraiçou. O Chico Sapateiro, dono do macaco, era o meu querido tio, por união com a tia, irmã do meu pai. Morando muito perto do tio, visitava-o frequentemente, talvez por termos a mesma afinidade por animais ou simplesmente porque era um tio muito simpático. O tio Chico do macaco é mais um ponto alegórico que marcou o Borlão.
Adeus por agora, até à proxima,

Isabel Alves ............03-06-2011


Certamente fiz alguma confusão, pois o Natário de Sousa, (seu tio) eu conhecia-o como " Chico Anselmo " porque ele era colega do meu irmão que por acaso tinha uma fotografia com ele no parque ainda jovens, em que o seu tio tinha uma "boinita" daquelas que tinham uma pequena carrapeta no topo, pormenor que eu nunca esqueci. Ele ia muitas vezes a um sapateiro que havia na Calçada 5 de Outubro e que era perto onde eu morava. O nome Anselmo, talvez o mencionassem por ser o nome de seu pai. As senhoras eram conhecidas p'las Anselmas e o seu tio se fosse vivo deveria ter uns 80 anos. Eu sou mais da geração do Zé Valente, ele jogava à bola e bem, pelo liceu e eu jogava pela Bordalo Pinheiro e por vezes jogava-mos junto à vinha dos Natários (seus avós) lá para os lados da antiga Vacuum onde também haviam muitas amoreiras e não eram tão guardadas quanto as da Avenida.
Para a I. Alves, eu conheço bem toda a família Alves, só não tinha bem a certeza, mas agora já sei que estou certo e que ele (C.sapateiro) tinha também uma filha que andou na nossa escola. Lembro me da vossa tia Águeda "já falecida", da Lurdes e do Campino e dos Alves todos que são muitos.
Dá cumprimentos ao Rafael.

J. Chaves..................05-06-2011

Olá aqui estou mais uma vez. Agora é que a memória do Chaves o atraiçou-a. A Águeda, já falecida, é a prima mais velha, irmã da Lurdes e do Campino, filhos do Augusto, irmão do meu pai já falecido talvez a à mais de 60 anos, a filha do tio Chico é a Cila, mora à anos em Leiria. A família Alves é de facto muito grande, eu sendo Alves, casei com um Alves de Peniche, filho do Manuel Alves, alfaiate já falecido sócio de Alves, Pinto e Feliz o Pronto a Vestir que se não me engano era localizado na Rua Almirante Cândido dos Reis. Enviei os seus cumprimentos ao meu Pai ele retribuíu, o computador deixa-o um pouco intímidado. Este ano vamos todos até Portugal faço intenção de o ir visitar.
Agradecimentos ao Zé.

Isabel ................05-06-2011


Mais uma vez venho a este blog para partilhar a satisfação em ver os meus avós recordados nestas histórias.

Efectivamente a Rua da Esperança (a minha casa até adolescente) era onde funcionava a escola primária e a minha avó era mesmo muito exigente (eu também fui sua aluna), no entanto e embora por vezes muito rigorosa, os alunos dela facilmente se "distinguiam" de outros no que diz respeito ao conhecimento.

Um bem haja para todos e espero que este blog seja sempre "alimentado" por recordações que nos preenchem.


Carla Rainho.................22-08-2011

Ainda voltando à Exma Senhora Professora D.Maria Joaquina, é a única professora da primária de que me lembro o nome completo. "Maria Joaquina de Sousa Reis Rainho". Foi minha professora apenas um ano, na 2ª ou 3ª classe, na Fanadia, nos anos de 1955 ou 56.
Muito exigente, mas como já li atrás, quem fosse seu aluno ficava preparado. Tenho um caso muito curioso com ela, que ficou na história da minha família. Depois de fazer uma pergunta a quase toda a sala, virou-se para mim, que normalmente sabia responder, mas naquela dia deu-me uma "branca" e quanto mais ela insistia menos eu conseguia responder. Eu era o seu aluno preferido e naquele dia deixei-a ficar mal. Irritou-se tanto, que me enfiou uma bufetada que me deixou a cara marcada. A seguir pedu-me logo muitas desculpas pelo sucedido, mas ainda hoje, mais de 50 anos passados a recordo com saudade.


De Faro, Zé da Conceição................14-06-2012

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